segunda-feira, 3 de maio de 2010

Psicossomática - estudo de caso


No começo de 2010 recebi uma senhora, queixando-se de lombociatalgia direita, ou seja, uma dor que se inicia na região baixa das costas; passa pelo glúteo e desce pela perna direita. Ao questioná-la a respeito da dor, me contou que sentia essas dores há muitos anos, desde o nascimento do primeiro filho, e que elas iam e voltavam sem motivo aparente. Foi ao ortopedista que lhe pediu exames de raios -X com diagnóstico de escoliose (desvio lateral da coluna) lombar e retificação da curvatura cervical (pescoço). Perguntei-lhe então sobre os órgãos, fígado, estômago, intestinos, etc.; disse-me que sofria de gastrite. Perguntei se havia mais alguma queixa e após breve período pensando, respondeu que sentia dores nos joelhos devido a uma lesão meniscal. Pedi pra que se deitasse na maca de barriga para cima. Ao palpar lhe o pescoço pude perceber grande tensão muscular seguida de rigidez vertebral, ou seja, o pescoço estava parecendo uma barra de ferro. Manipulei sua nuca enquanto aguçava minha percepção fechando meus olhos e reparei que o lado esquerdo estava bem mais tenso. Pedi para que girasse a cabeça à esquerda e à direita. Ela apresentava grande dificuldade nesses movimentos, porém para a esquerda era bem mais difícil. Feito isso levantei e fui testar os membros inferiores. Realizei um teste ortopédico chamado Teste de Lazegue onde o terapeuta ergue a perna do paciente com o joelho estendido. O teste foi positivo com a paciente referindo dor na porção posterior da coxa indo para o glúteo. Após esse acontecimento iniciou-se o seguinte diálogo:

- Há quanto tempo mesmo a senhora tem essa dor?
- Desde que meu filho nasceu.
- E a senhora teve alguma complicação na hora do parto?
- Não, foi tudo bem. Nasceu até que rápido.
- E a senhora quando estava grávida teve algum problema com sua mãe?

Ela deu um suspiro arregalou os olhos e disse:

- Sabe Dr. Bruno quando eu fiquei grávida e fui falar pra minha mãe ela me abandonou! Foi muito triste!

Então comecei a traçar o raciocínio pscicossomático em voz alta junto à paciente:

 O que acontece com o seu pescoço é que a senhora deve ser uma pessoa com idéias muito rígidas, por isso seu pescoço tão rígido. E também, tem essa dificuldade de girar para a esquerda, porque não quer olhar, encarar essa situação em relação a alguma mulher, que no seu caso acredito ser sua mãe.

Então ela respondeu:
- É; realmente sou muito rígida nos meus pensamentos!
- Já essa dor na lombar, indo para a perna direita, significa que você tem algum problema na sua base familiar, pois o lugar onde a senhora tem a dor é justamente na base de sua coluna, é o seu alicerce. E dói quando levantamos a perna estendida, o que significa um passo à frente. A senhora consegue perceber que se estivéssemos de pé e fizéssemos esse mesmo movimento é como se estivéssemos dando um passo?
- Você tem razão! Mas o que isso quer dizer?
- Quer dizer que a senhora não quer avançar em relação a sua mãe, não quer dar esse passo à frente.
- Não Dr. Bruno isso tudo já esta resolvido faz tempo.
- Então repara se quando a senhora tem algum problema e se sente abandonada ou tem alguma situação com sua mãe se as dores não pioram?
- Tá bom vou tentar perceber.
- E a gastrite a senhora sabe o que significa?
- Não, o que Doutor?
- Significa que a senhora não digere certas situações e junto com esse queixo para baixo que a senhora também tem engolido muitas coisas que não gosta.
- AH! Isso é verdade!
Então me contou sobre outras vezes que teve gastrite e conseguiu fazer essa relação.

Após isso; pedi para que fizesse um exercício, escrever uma carta como se estivesse conversando com a pessoa, no caso a mãe dela, e depois queimar. E avisei sobre a importância desse trabalho e sobre sua dificuldade. Ela me olhou com uma cara de quem iria fazer, somente por que eu estava a pedir.
Na outra sessão ela chegou com muita alegria dizendo se sentir bem melhor. O pescoço continuava tenso, porém com menor intensidade. Pedi que se deitasse e fui trabalhando seu pescoço, massageando, alongando; então perguntei se tinha escrito a carta. Ela levou um susto e disse:

- Dr. Bruno você não acredita! Escrevi a primeira linha e derrepente começou a me dar uma sensação tão ruim! Senti uma coisa no estômago subindo pela garganta, uma vontade de...
- De que? Perguntei.
- Deixa pra lá. Daí, fiquei com vontade de chorar, rasguei a carta e joguei fora.
- A senhora chorou?
- Não.
- Então, a senhora lembra que te falei que seria muito difícil escrever essa carta, pois teria que colocar muitas coisas para fora, e a senhora contou que já havia superado tudo isso? Pois é, se estivesse tudo superado nada disso teria acontecido. E além do mais a senhora acabou guardando esse choro mais uma vez.

Ela concordou dizendo que não imaginava que ainda tinha essas magoas e que escreveria essa carta assim que pudesse.
Na outra sessão, mesma coisa, coloquei-a deitada e fui trabalhando seu pescoço quando perguntei sobre a carta e ela respondeu que não havia tido tempo.

Isso é comum acontecer durante o tratamento quando temos que remexer com coisas guardadas há muito tempo. Encaminhei-a para o psicólogo onde realiza tratamento logo após sua sessão comigo. Tem melhorado a cada dia e hoje compreende melhor seus problemas e suas dores. Continuamos a fazer o tratamento físico com o RPG e mais o tratamento psicológico com um psicólogo. No caso dessa paciente, ela possui uma alteração estrutural na coluna que piora com o fator psicoemocional, logo precisa de um tratamento físico e um emocional em conjunto.

E assim procedo com a maioria dos meus pacientes, usando a avaliação e tratamento postural (RPG), a leitura corporal psicossomática e a Microfisioterapia que me mostra muitas emoções vividas pelos pacientes e que trouxeram algum tipo de trauma em suas vidas, sejam elas emoções conscientes ou inconscientes, pois acredito que uma dor nunca é simplesmente por um fator causal e sim multifatorial, excluindo-se é claro os traumas diretos como a quebra de uma perna devido a um acidente de carro por exemplo.

Dr. Bruno Cabral
Fisioterapeuta
11 99892 3225

3 comentários:

  1. Caro colega e amigo Bruno. Quero parabenizá-lo pelo trabalho e pesquisa em fisioterapia psicossomática. Este, ainda, é mais um rótulo. O que importa mesmo é deixarmos claro para nossos pacientes e outros profissionais a necessidade premente de tratarmos, realmente, o paciente como um todo respeitando seu histórico e trajetória biopsicossocial e emocional. Lembrar-lhes que o ambiente também condiciona comportamento e que precisamos assumir cada vez mais responsabilidade sobre nossas vidas. Nâo somos nós, terapeutas e profissionais da saúde que "curamos". Nós somos no máximo "elementos potencializadores" de uma tomada de consciência para estimular a "autocura" que é a verdadeira cura. Parabéns, forte abraço e vamos gerar mais casuística.

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  2. Grande Dr. Pedro Paulo, muito obrigado!! Abraços

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  3. Dr. Bruno Parabéns, a historia dela é bem parecida com a minha,depois que ganhei o bebe tive varias vx essa dor começa ossinho parte gluteo e pega a perna inteira (direita) e as vezes sinto dores tb costa pescoço e braços o que será que tenho ja fui no médico disse que era muito nova e que era só dores musculares, mas nunca passou será que é nervo ciatico email cidasmack@hotmail.com

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